segunda-feira, 4 de abril de 2011

A Destruição do Patrimônio


Gilberto Velho*


O incêndio da Capela de São Pedro de Alcântara e a destruição parcial do Palácio Universitário da UFRJ demonstram, mais uma vez, a falta de recursos e apoio de que se dispõe para proteger e preservar marcos e símbolos nacionais. A valorização de bens materiais e imateriais não é um capricho de elites, mas a tentativa consciente de sublinhar identidades, desde grupos mais restritos até a nação e mesmo, em vários casos, o mundo como um todo.

A Capela de São Pedro de Alcântara era uma jóia incrustada no Palácio Universitário da UFRJ. Esforços estavam sendo feitos para protegê-la e restaurá-la, mas foram insuficientes. A falta de meios adequados, de pessoal qualificado e de atenção dificultam, para um público leigo, a percepção da importância dessa perda. Temos muitos outros problemas graves ocorrendo no Rio de Janeiro para ilustrar essa problemática. O Jardim Botânico, a despeito de seus dirigentes, presença intensa e viva, não só de uma memória mais afastada mas de um presente vivíssimo, tem sido objeto de desqualificação, de desrespeito, colocando em risco um patrimônio histórico, cultural, arqueológico, natural, entre outros. Tem importância científica, estética e ambiental. É curioso que se tente apresenta-lo como um privilégio para poucos, em detrimento de supostos interesses sociais que estariam sendo lesados. As tentativas de se chegar a acordos e a um diálogo civilizado tem sido difíceis e poucos progressos foram obtidos.

No caso da UFRJ, é altamente louvável o esforço que tem sido feito para impedir a destruição de prédios e patrimônios fundamentais para a ciência e educação do país. Mas o episódio da capela é assustador. Faz-nos pensar nos riscos que rondam monumentos vivos e complexos, como o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista. Nos últimos anos, obras foram feitas e medidas foram tomadas para melhorar o quadro de ameaça. No entanto, é preciso muito mais para garantir um mínimo de tranqüilidade em relação aos prédios, não só da UFRJ, mas a outros espalhados pela cidade.

A pilhagem constante, os furtos, o uso inadequado dos espaços e a ignorância bastante generalizada no que toca ao significado desses conjuntos de símbolos que articulam identidades socioculturais, em vários planos, permanecem ameaçadores, ultrapassando as frágeis defesas que se tentam erguer.

Todo o esforço deve ser dirigido para recuperar e restaurar a Capela de São Pedro de Alcântara, referência fundamental para a vida universitária, científica e cultural da cidade e do país.

*Antropólogo


[publicado em O Globo, em 02 de abril de 2011]

Um comentário:

  1. Concordo! a valorização dos nossos bens culturais não é um capricho e deveria ser entendida como um compromisso. Infelizmente o patrimônio cultural, material ou imaterial sofre com a falta de cuidado em todo o Brasil.

    Gostei muito do seu blog e linkei ao meu blog. Conheço algumas de suas ótimas publicações acadêmicas.

    Um abraço
    Carlos

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